Era sábado. Como de costume acordei às 8h, você deve se lembrar dessa minha mania. A luz do sol entrava pelos espaços da minha cortina mal fechada me dando vestígios de que estava um dia lindo lá fora.
Eu não queria levantar da cama, assim como não queria no dia anterior, nem no dia antes do anterior. Foi assim… Desde que você foi embora, me tornei alguém com o menor apreço pela vida.
Olhei para o lado, você já não estava mais ali. Os lençóis, o travesseiro… Já faziam meses que você tinha os desocupado, mas ainda não havia encontrado a maior vontade de ocupa-los por um outro alguém.
Meu celular fez aquele barulho estranho de mensagem, sabe? Aquele que você dizia que parecia uma galinha ou um sapo, lembra? Você nunca decidiu sobre a com que animal aquele som esquisito tinha uma ligação. No impulso peguei o celular na esperança de que fosse você, não era.
Levantei. Ah, garoto! Vou seguir em frente! Você desistiu de mim, não aguentou minhas crises, meus dramas, minhas TPM’s. Você já havia encontrado outra TPM para aturar, e eu? Estou aqui ainda esperando por você.
Vesti aquela blusa vermelha que você me deu no meu aniversário, sabe? Você dizia que eu ficava linda com ela, lembra? Um short rasgado e aquele meu velho “All Star de guerra” que eu usava aos sábados.
Lavei o rosto, passei uma maquiagem para esconder os olhos inchados de uma noite quase toda em claro chorando por um idiota como você, peguei minha bolsa, meus óculos escuros e parti a caminho do parque. Ah, aquele parque…
Ao entrar no elevador, encontrei com aquela Dona Maria do 902 e ela me perguntou sobre você. Sorri e respondi que nossa história tinha chegado ao fim. “Mas por que, minha filha? Vocês se amavam tanto! Um casal tão lindo não pode terminar assim!”, disse ela com uma cara de desespero entre as muitas rugas adquiridas com os muitos anos vividos. Eu apenas sorri e pensei no quanto eramos felizes juntos, infelizmente tudo o que começa tem que terminar um dia.
Cheguei ao parque, aquele lugar me trazia boas lembranças. Lembranças que me faziam sorrir e ao mesmo tempo corroíam minha alma. O ar, as flores, os casais, os patos no lago… Tudo ali me lembrava você.
Em meio as minhas viagens em lembranças de pretéritos imperfeitos, ouvi uma voz rouca, mas doce falando comigo. “Posso te paga um sorvete e, quem sabe, ouvir um pouco desse alguém que ocupa sua mente?”, aquele homem, aparentemente doce, estava ali a me encarar com aqueles olhos azuis brilhantes a espera de uma resposta.
Aceitei. E foi assim… Um sorvete. Um sorvete que me fez trocar o DVD, que me fez não só tirar o filme do “stop”, mas sim começar um novo. E foi assim… Com um sorvete que descobri que agora você faz parte de um passado o qual pretendo, um dia, esquecer por completo.
(Rafaela Krüger)